UNDER PRESSURE | 2017

Centro de Artes e Cultura de Ponde de Sor. 

Uma imagem possível para as palavras

Por Martim Dias

Toda a palavra tem a capacidade de construir imagens mentais, assim como as imagensdemonstram, em determinados momentos, a necessidade de encontrar justificações verbaisque as integrem, as definam, ou simplesmente lhes ofereçam uma aproximação àtemporalidade pertencente ao campo da palavra. Vivemos submergidos num universo deimagens e palavras, elementos cujos limites se cruzam com frequência.

O aprofundamento sobre as características intrínsecas ao diálogo estabelecido entre palavra eimagem foi, desde sempre, um fértil campo de debate, como afirma Simónides1, o qualdenomina a pintura como poesia muda e, por outro lado, a poesia como pintura falante. Oséculo XX é rico em manifestações que procuram uma maior relação entre distintos códigos delinguagens. De René Magritte, que procurou comprovar como as palavras e as imagensdiferem nos seus modos de compreensão, a Christopher Wool que, através de um processo deapropriação de textos provenientes das mais diversas fontes, utilizou a repetição e o intervaloentre palavras e letras para romper o seu significado primário. Apesar da abrangência dasinvestigações desenvolvidas em torno deste tema, prevalecem no contexto da artecontemporânea múltiplas linhas de investigação abertas que procuram prosseguir este debateentre dois campos tidos como complementares.

O que significa? Como se define? O que se vê? O que se pode extrair de uma palavra outexto? Estas são algumas das questões basilares numa tentativa de leitura do trabalho deMónica Capucho. São dúvidas que se formam a partir do seu modo de compreender asideias contidas sob códigos verbais, longe da materialização imagética que é familiar aoobservador e que ultrapassa qualquer barreira verbal.

A compreensão de uma obra está composta por uma série de seis passos – olhar, observar,ver, descrever, analisar e interpretar. Num momento como o que se atravessa, mergulhadosnum presente contínuo como afirma Jameson2, Under Pressure convida-nos a umafastamento da pressão inerente à inversão que fazemos do nosso próprio tempo. Estaexposição procura ir além do que é capturado num primeiro olhar, o que é extraído à primeiravista. Aqui propõe-se ao espectador uma aproximação através de um conjunto de mecanismosque relacionam a aprendizagem humana e a compreensão humana, sabendo que cadaindivíduo está constituído como uma textura complexa.

Em Under Pressure é evidente o processo de aproximação entre o visível e o imaginado, combase numa tríade onde se inclui a palavra, a cor e a textura. Esta exposição está orientadapela exploração de figuras de estilo, sob uma ideia de substituição e reinvenção visual,

1 PLUTARCO. De gloria Atheniensium 3.346f. citado por CAMPBELL, David A - Greek Lyric, Volume III,Stesichorus, Ibycus,. Simonides, and Others. Cambridge: Loeb Classical Library. 1991. p. 363.
2 JAMESON, Frederic. El giro cultural: Escritos seleccionados sobre el posmodernismo 1983-1998. Buenos Aires:Manantial. 2010. p. 37.

fundamentadas na contiguidade e semelhança. Com isto surgem, de forma clara, mecanismospróprios da metáfora e da metonímia, elementos comuns no território da palavra, mas que aquise estendem ao campo visual. Com isto, Mónica Capucho procura estabelecer um nexo decumplicidade entre palavra e imagem, no qual a palavra se visualiza e a imagem se textualizanuma relação que esgota a lógica e se transforma numa improvável armadilha para oespectador.

Esta relação estabelecida entre palavra e imagem, seja a mesma bi ou tridimensional,demanda um esforço interpretativo por parte do espectador. Cada trabalho que aqui seapresenta tem a capacidade de existir por si só, na sua unidade, sem deixar, contudo, deprocurar estabelecer novas e inesperadas leituras a partir da complexa relação que se geraentre espectador e conjunto.

Under Pressure procura rever e reescrever a aura das palavras, propondo uma reflexão sobrea sua capacidade de ampliar, distorcer, traduzir ou amplificar o significado que serve de base aum conjunto de palavras ordenadas de forma contínua. Na seleção de obras que compõemeste projeto tudo é imagético, matérico, visível, sendo necessário observar o conjunto, depuraras partes, com a finalidade de estabelecer uma articulação adequada entre os diversoselementos. No caso de algumas das obras apresentadas pode ocorrer um excedente desentido, de compreensão, com base no que não está escrito, no indizível, no que não épensado mas sugerido. 


UNDER PRESSURE | 2017

Centro de Artes e Cultura de Ponde de Sor. 

A possible image for the words

By Martim Dias

Every word has the power of building mental pictures, in the same way as images show theneed for finding verbal justifications, integrating them at determined moments, defining themor simply offering them an approach to the temporality belonging to the scope of the word.We live sunk in a world of images and words, elements that often cross each other.

The deepening over the features inherent to the dialogue between word and image wasalways a prolific field of discussion, as Simonides1 states. He denominates painting as silentpoetry and, on the other hand, poetry as talking painting. The 20th century is rich indeclarations searching for a bigger relation among different language codes.

From René Magritte, who tried to prove that words and images differ in how they areunderstood, to Christopher Wool, who, trough a process of taking texts of different sources,used the repetition and space between words and letters to break their primary meaning. Inspite of the large scope of research developed around this subject, in the context ofcontemporary art there are several open lines of investigation following this discussionbetween two fields, considered complementary.

What does this mean? How is this defined? What can be seen? What can be drawn out of aword or of a text? These are some of the fundamental questions in an attempt of reading thework of Mónica Capucho. These are doubts that take shape in her way of understanding theideas enclosed in verbal codes, far from the imagetic materialization, familiar to the onlooker,a way that goes beyond any verbal barrier.

The comprehension of a work undergoes a series of six steps- look, observe, see, describe,analyse and interpret. Because we are living the moment, sunk in a continuous present, asJameson2 states, Under Pressure invites us to withdraw from the pressure inherent to thereversal of our own time.

This exhibition seeks to go beyond what is captured at first sight, what can be taken from thefirst viewing. Here the onlooker is given an approach through a number of mechanisms thatconnect human learning and human understanding, in the knowledge that each person ismade of a complex texture.

In Under Pressure the process of converging the visible and the imagined is very clear, basedon a triad that includes the word, the colour and the texture. This exhibition is directed by thesearch of stylistic resources, beneath an idea of replacement and visual reinvention based oncontiguity and similarity.

So, clearly, mechanisms of metaphor and metonymy, common elements in the field of theword come up, but here they are drawn to the visual field. With this in mind Mónica Capuchotries to establish a relation of complicity between word and image. So the word becomesvisible and the image becomes textualized in a connection that wears out logic and becomesan improbable trap for the onlooker.

This connection between word and image, wether bi or tridimensional, asks for an effort ofinterpretation by the onlooker. Each work exhibited here has the capacity of existing on itsown, in its unity. However it tries to establish new and unexpected readings starting from thecomplex relation between the onlooker and the whole.

1 PLUTARCO. De gloria Atheniensium 3.346f. citado por CAMPBELL, David A - Greek Lyric, Volume III,Stesichorus, Ibycus,. Simonides, and Others. Cambridge: Loeb Classical Library. 1991. p. 363.
2 JAMESON, Frederic. El giro cultural: Escritos seleccionados sobre el posmodernismo 1983-1998. Buenos Aires:Manantial. 2010. p. 37.

Under Pressure seeks to write and rewrite the aura of the words, proposing a reflection abouttheir ability to enlarge, distort, translate or amplify the meaning underlying a set of worksordered in an unbroken form. This project is composed of a selection of words in whicheverything is imagetic, material, visible, making it essential to observe the whole set,cleansing each part with the purpose of establishing the appropriate articulation among thevarious elements. In some of the works an excess of meaning, of comprehension, can occur,based on what is not written, on what cannot be said, cannot be thought, can only besuggested.

And if at the beginning of this project we meet the word, at the end an image comes up, anobject or perhaps even a new source of inspiration for the linguistic creation. 


UNDER PRESSURE | 2017

Centro de Artes e Cultura de Ponde de Sor. 

Una posible imagen para laspalabras

Martin Dias


       Toda palabra tiene lacapacidad de construir imágenes mentales, así como las imágenes demuestran, endeterminados momentos, la necesidad de encontrar justificaciones verbales quelas integren, las definan, o que simplemente les ofrezcan una aproximación a latemporalidad perteneciente al ámbito de la palabra. Vivimos sumergidos en ununiverso de imágenes y palabras, elementos cuyos límites se cruzan confrecuencia.

Profundizando sobre lascaracterísticas intrínsecas del diálogo establecido entre palabra e imagen,vemos que este ha sido desde siempre un fértil campo de debate. Desde Simónidesde Ceos 1, quien se refiere a la pintura como poesía muda y, porotro lado, a la poesía como pintura hablante. Hasta el siglo XX, que ha sidorico en manifestaciones que buscan una mayor relación entre distintos códigosde lenguajes. Desde René Magritte, que intentó comprobar cómo las palabras ylas imágenes difieren en sus modos de comprensión, a Christopher Wool quien através de un proceso de apropiación de textos procedentes de las más diversasfuentes, utilizó la repetición y el intervalo entre palabras y letras pararomper su significado original. Pero a pesar del alcance de las investigacionesdesarrolladas en torno a este tema, prevalecen en el contexto del artecontemporáneo múltiples líneas de investigación abiertas, que intentanproseguir este debate entre dos campos considerados complementarios.

¿Qué significa? ¿Cómo sedefine? ¿Qué se ve? ¿Qué se puede extraer de una palabra o de un texto? Estasson algunas de las cuestiones básicas en un inicial intento de lectura deltrabajo de Mónica Capucho. Son dudas que se forman a partir de su modo decomprender las
ideas contenidas bajo códigos verbales, lejos de la materialización de lasimágenes que le son familiares al espectador y que sobrepasan cualquier barreraverbal.

La comprensión de una obra seestructura en una secuencia de seis pasos: Mirar, observar, ver,describir,  analizar e interpretar.  En un momento como el que atravesamos,  sumidos en "un presente continuo"como afirma Jameson2, StillUnder Pressure nos invita a alejarnos de la presión inherente a lainversión que hacemos de nuestro propio tiempo. Esta exposición busca ir másallá de lo que se observa en una primera mirada, lo que se extrae a  primera vista. Aquí se propone al espectadoruna aproximación a través de un conjunto de mecanismos que relacionan elaprendizaje y la comprensión humana, sabiendo que cada individuo estáconstituido como una estructura mental compleja.

En Still Under Pressure, el proceso de convergencia de lo visible y loimaginado es muy claro, basado en una tríada que incluye la palabra, el color yla textura. Esta exposición está guiada por la búsqueda de recursos estilísticos,bajo una idea de sustitución y reinvención visual, fundamentada en laproximidad y la semejanza. Con ello surgen, de forma clara,  mecanismos de metáfora y de metonimia,elementos comunes en el territorio de la palabra, pero que aquí se extienden alcampo visual. Con ello, Mónica Capucho busca establecer un vínculo decomplicidad entre la palabra y la imagen, en el que la palabra se hace visibley la imagen se convierte en texto, en una relación que agota la lógica y setransforma en una improbable trampa para el espectador.

Esta relación establecidaentre palabra e imagen, sea esta bidimensional o tridimensional, demanda unesfuerzo de interpretación por parte del espectador. Cada trabajo que sepresenta, tiene la capacidad de existir por sí solo, sin dejar de establecernuevas e inesperadas lecturas a partir de la compleja relación que se generaentre espectador y conjunto de las obras.

Still Under Pressure busca revisar y reescribir el aura de las palabras, proponiendo unareflexión sobre su capacidad para ampliar, distorsionar, traducir o amplificarel significado que sirve de base a un conjunto de palabras ordenadas de formacontinua. Este proyecto se compone de una selección de palabras en la que todoes imagen material, todo es visible, por lo que es esencial observar todo elconjunto, limpiando cada parte con el fin de establecer una articulaciónadecuada entre los diversos elementos. En el caso de algunas de las obraspresentadas puede ocurrir que tengan un exceso de significado, de comprensión,en base a lo que no está escrito, en base a lo que no se dice, pero se sugiere.

Y si al principio de esteproyecto nos encontramos con la palabra, al final surge una imagen, un objeto, otal vez incluso una nueva fuente de inspiración para la creación lingüística.

- - -

1 PLUTARCO. Degloria Atheniensium 3.346f. citado por CAMPBELL, David A - Greek
Lyric, Volumen III, Stesichorus, Ibycus,. Simonides, y otros.
Cambridge:Loeb Classical Library. 1991. p. 363.


2 JAMESON, Frederic. El giro cultural: Escritos seleccionados sobre el posmodernismo1983-1998. Buenos Aires: Manantial. 2010. p.37.

Using Format